quarta-feira, 6 de abril de 2011

Doses Sonoras



Recentemente no Brasil, um crescente e controverso mercado vem chamando a atenção de jovens, pais, educadores e até do ministério público: a venda de drogas digitais.

As drogas digitais ou i-doses são arquivos de MP3 feitos especialmente para induzir estados alterados em quem ouvir, dando supostamente sensações parecidas com as do consumo de drogas como maconha e ópio.


A idéia de usar sons como droga surgiu em 2001 com John Ashton, um programador de áudio nova-iorquino de 31 anos. Sua primeira invenção foi a maconha, lançada em 2005.

 O princípio da droga digital é a técnica binaural beats (batidas binaurais) , descrita pelo físico alemão Heinrich Dove em 1839. Segundo o cientista, se frequências distintas são reproduzidas em cada ouvido, o cérebro produz um terceiro sinal, correspondente à diferença entre os sons originais. A nova frequência teria o poder de alterar o estado de consciência do usuário.


Nas linhas abaixo, reproduzo  a chamada do I-Doser Mp3, blog especializado em fornecer as drogas digitais em forma de "doses sonoras" que variam de 10 à 45 minutos de duração.

(Lembramos a todos que o blog Música & Saúde não apoia o uso de qualquer tipo de droga, seja real ou virtual. Apenas se propõe a discutir o assunto com seus leitores.)

Transcrição da frase inicial do blog I-Doser MP3:
“Já teve vontade de experimentar drogas, mas não teve coragem por medo de viciar ou de ser "careta"? Então chegou o modo mais seguro para que você possa sentir tais sensações que as drogas reais provocam ao usuário! Estou falando do I-doser, que é um programa de computador que emite doses de ondas sonoras para interferir nas ondas cerebrais da "vítima"..rsrs! Elas simulam efeitos físicos e mentais semelhantes às drogas recreativas, como heroína, maconha, cocaína, etc. Também a doses que simulam sensações de remédio prescrito como o famoso Viagra e até de esteróides como a Victory! Mas vou logo avisando que os efeitos podem ser sentidos incialmente, ou por um certo tempo de uso! Pra quem está começando aconselho a dose Quick Happy!”

As experiências musicais oferecidas pela internet  deixam pelo menos duas questões:
1  A audição pode mesmo gerar estados alterados de consciência?
2 Elas podem ser de alguma forma, prejudiciais?


Musicoterapia e Experiências sonoras 

Helen Bonny

A musicoterapeuta Helen Bonny,  no fim da década de 60, deu início a  estudos nos quais experiências musicais em conjunto com doses de LSD levavam a estados alterados de consciência, induzindo o indivíduo a vivenciar aumento da emoção, suspensão do superego e experiências de criatividade.
Helen porém, percebeu que  o LSD era dispensável, pois "só a música,  quando escolhida com conhecimento e discriminação, podia produzir um estado alterado da mente ”. 

No método desenvolvido por Helen (GIM),  geralmente são experimentados três níveis de experiência com a música: o prelúdio, a ponte – ascensão ou descida a estados mais profundos e o centro ou mensagem da sessão. No final da sessão, o paciente sai do estado alterado de consciência e reflete sobre o que aconteceu, juntamente com o musicoterapeuta.

Portanto, de acordo com Bonny, a realização de experiências musicais que levam a estados mentais alterados,  devem ser feitos com conhecimento e discriminação, acompanhado de um musicoterapeuta em um processo criterioso.  A preocupação ética da aplicação do método Bonny, sob o risco de gerar danos ao indivíduo caso seja aplicado erroneamente, garante que tal técnica seja aplicada somente por profissionais formados no método, evitando o uso indiscriminado e equivocado das audições propostas. 

Apesar das diferenças existentes nos dois casos: O método Bonny utiliza programas musicais baseados principalmente na música erudita, enquanto os I-doser utilizam-se nas batidas binaurais, podemos pensar que a audição indiscriminada de experiências sonoras que induzem a alteração de consciência, pode sim oferecer riscos , se não fisiológicos, psicológicos e mentais.

Entretanto, por se tratar de um tema relativamente recente, ainda carece de maiores pesquisas. 

E você, o que acha? Deixe sua opinião a respeito!



Saiba mais:
- Sobre o modelo Helen Bonny: http://www.ami-bonnymethod.org/index.asp

- Sobre o I-doser: http://pt.wikipedia.org/wiki/I-doser

- Blog I-Doser MP3: http://i-doserbr.blogspot.com/



4 comentários:

  1. Já ouvi falar sobre essas "drogas digitais". Na boa, eu acho isso ridículo. Eu não entendo qual é a graça disso. O cara vai põe o mp3 e sente um barato. É totalmente sem nexo e sem propósito isso.

    Eu tenho uma maneira de me sentir bem e sem precisar dessas tosquises: Doses excessivas de jazz, blues e rock. Não preciso de mais nada para me sentir bem.

    Creio que esse lance de "droga digital" é pro camarada que quer usar droga mais nao tem coragem de ir e comprar a de verdade, dai fica com essa palhaçada. Volto a dizer, é algo sem nexo na minha opinião, além de ser ridículo.

    Abraço
    Daniel

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  2. Daniel

    Também acho que comercializar tais arquivos mp3 como droga soa bem ridículo...mas como musicoterapeuta, tb sei que a música pode gerar efeitos variados nas pessoas, principalmente se a audição for sugestionada como é feito com as i-doser.

    A questão é que tem muita gente consumindo e relatando reações muito estranhas...não sei até onde são verdadeiras, por isso lancei aqui o assunto.

    Por fim, concordo plenamente com as altas "doses" de boa música!

    Abçs, Flávia

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  3. Que a audição pode gerar estados alterados de consciência há testes suficientes para comprovar. Na minha opinião, é prejudicial no sentido de ser oferecida como recurso de escape da realidade, terapeuticamente falando!

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  4. Guilherme

    Os escapes da realidade são o princípio das drogas, portanto, prejudiciais..

    Quanto a indução de estados alterados de consciência em terapia, a idéia não é fugir da realidade, mas sim entrar em contato com conteúdos internos, e sempre com acompanhamento do terapeuta.

    Abçs

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