segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

As qualidades dinâmicas dos modos mixolídio, dórico e frígio, e a improvisação clínico-musical

Por Gregório J. Pereira de Queiróz






Este trabalho se propõe a analisar as qualidades dinâmicas, e os movimentos resultantes destas, em três dos modos diatônicos, comparando-os com a dinâmica do modo diatônico maior, o modo sobre o qual se estabeleceu a música ocidental nos últimos quinhentos anos – estabelecendo inclusive aquilo que denominamos harmonia.
Os modos mixolídio, dórico e frígio têm movimentos e dinâmicas que diferem do modo maior; conseqüentemente, a música executada nestes modos contem diferentes significados, postulam outras movimentações para a interioridade humana. O interesse deste estudo está no uso das escalas na improvisação musical em musicoterapia justamente por elas postularem outras movimentações.

Além de procurar descrever com palavras como é o movimento da escala natural em cada modo – tarefa ingrata, pois que palavras descrevem mal dinâmicas; elas descrevem melhor objetos – também indicamos em quais momentos e situações do processo terapêutico o uso destas escalas pode ser pertinente.

A descrição do movimento é compreendida de modo mais adequado ao se escutar as escalas soarem em um piano ou outro instrumento.


Partiremos de um ponto conhecido pelos estudantes de música, o modo maior, e a fundação que lhe dá base, a ordem diatônica, para a partir destes dados construirmos nosso pensamento a respeito dos modos e de sua utilização em musicoterapia.

Dó Maior



Os modos são os diferentes modos de organizar a ordem diatônica. Conforme tomamos como início uma nota ou outra, temos diferentes seqüências de intervalos entre as notas, diferentes modos da ordem diatônica. A seqüência dos intervalos é diferente em cada modo.

Modo Dórico 



Modo Frígio





Modo Mixolídio






As colocações  feitas no presente trabalho, por meio de uma explanação conceitual e musical, têm o suporte da utilização destes modos na prática clínica. Mas, cremos, seria impossível chegar à construção destes conceitos a partir da experiência prática. A partir dos dados empíricos e da observação das experiências, qualquer construção como a aqui proposta pareceria arbitrária, pois que nada nas reações muito diferentes dos diversos pacientes faria supor haver uma unidade – unidade quanto ao movimento – em cada um dos modos. É preciso saber previamente a que movimento corresponde cada modo, para podermos observar se tal movimento se faz presente, realmente, nas condições mais diversas. Portanto, o caminho conceitual para o estabelecimento do tipo de movimento presente em cada modo é imprescindível e precede o trabalho prático e experimental. A prática clínica poderá e deverá constatar, refutar, aprimorar ou corrigir as proposições aqui feitas. Mas não poderia nunca criá-las. Assim, este trabalho pretende ser, não a conclusão nem a última palavra sobre os modos e seus movimentos, mas o ponto de partida para uma série de experimentações em que a prática clínica mostre a real utilidade e o alcance do uso dos modos enquanto ferramentas para o trabalho musicoterapêutico.



Esta postagem apresentou trechos do artigo inédito enviado gentilmente por Gregório J. Pereira Queiróz  
Arquiteto, formado pela FAUUSP (1981); especialista em Educação Musical com área de concentração em Musicoterapia, pela Faculdade de Música Carlos Gomes (2001); especialista em Musicoterapia, pela Faculdade Paulista de Artes (2003); livros publicados: "O Equilíbrio do Temperamento através da Música" (1997), "A Música compõe o Homem, o Homem compõe a Música" (2001), “Aspectos da música e da musicalidade de Paul Nordoff e suas implicações na prática clínica musicoterapêutica” (2003); artigos publicados em revista da UBAM e diversos anais, assim como apresentação de trabalhos em fóruns, simpósios e encontros de pesquisa; ex-professor do curso de graduação em Musicoterapia na Unaerp (2004); organizador da II Jornada Brasileira de Musicoterapia Músico-Centrada (2008). E-mail:gregorio.queiroz@terra.com.br




Tanto os trechos selecionados como o artigo na íntegra foram autorizados pelo autor. 
Para baixar o artigo completo clique aqui

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Qual a importância de uma publicação científica?

                              

A Revista Brasileira de Musicoterapia, publicação anual da UBAM (União Brasileira das Associações de Musicoterapia), destinada à publicação científica de trabalhos originais relacionados à Musicoterapia e áreas afins, estará recebendo trabalhos para publicação em seu décimo primeiro volume.

A primeira RBM foi publicada em 1996 e representa um importante veículo de divulgação das produções científicas na área da Musicoterapia no Brasil.

Pode ser uma falsa impressão da minha parte, mas vejo que os musicoterapeutas brasileiros, em geral, escrevem e publicam pouco. Com certeza, pesquisar e escrever um bom artigo requer  trabalho, muita leitura, demanda tempo do autor e não assegura nenhum retorno financeiro (imediato). Qual, então,  a importância de uma publicação científica?

Podemos enumerar algumas razões:
• Divulgação científica - A publicação de um artigo científico ou técnico é uma forma de transmitir à
comunidade técnico-científica o conhecimento de novas descobertas, e o desenvolvimento de novos
materiais, técnicas e métodos de análise nas diversas áreas da ciência.
• Aumentar o prestígio do autor - Pesquisadores com um grande volume de publicações desfrutam do
reconhecimento técnico dentro da comunidade científica, alcançam melhores colocações no mercado de
trabalho, e divulgam o nome da instituição a qual estão vinculados.
• Apresentação do seu trabalho - Muitas instituições de ensino e/ou pesquisa, e várias empresas comerciais
frequentemente requerem que os seus profissionais apresentem o progresso de seu trabalho e/ou estudo
através da publicação de artigos técnico-científicos.
• Aumentar o prestígio da sua instituição ou empresa - Instituições ou empresas que publicam
constantemente usufruem do reconhecimento técnico de seu nome, o que ajuda a atrair maiores
investimentos e ganhos para esta organização.
• Se posicionar no mercado de trabalho - O conhecido ditado em inglês "Publish or perish", ou seja, "Publique ou pereça", provavelmente nunca foi tão relevante como nos dias de hoje. Redigir um artigo técnico lhe trará uma boa experiência profissional, e contribuirá para enriquecer o seu currículo, aumentando assim
suas chances de obter uma melhor colocação no mercado de trabalho.

No XIII Simpósio de Musicoterapia de Curitiba, Clarice Moura Costa anunciou a sua "aposentadoria". Segundo Clarice, a sua contribuição literária à musicoterapia brasileira já foi realizada, com publicações de artigos, pesquisas e livros, ao mesmo tempo que deu um recado à próxima geração: "Agora o trabalho é de vocês!"
Espero que o anuncio de aposentadoria da Clarice não seja tão sério, mas que o desafio seja sim encarado com seriedade pelos estudantes e musicoterapeutas, e que a produção científica gere muitas contribuições para nossa profissão.
 O prazo para o envio de artigos é de 25 de janeiro à 01 de abril de 2011 com previsão de lançamento em outubro de 2011. Mãos à obra!

Normas para publicação
Chek-list para ser preenchido e enviado

Referências


 ANDRADE, I. B. e LIMA, M. C. M. Manual para elaboração e apresentação de trabalhos científicos : artigo científico. Campos dos Goytacazes: Faculdade de Medicina de Campos, 2007.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Atividades de percepção e discriminação auditiva - Por Flávia Nogueira


Ouvir, escutar, sentir e perceber são  fatores  importantes para o fazer musical, principalmente na fase de sensibilização. No processo de aprendizado musical,  o desenvolvimento da percepção auditiva é indispensável para o bom desempenho das outras habilidades, atuando como uma base para aprendizados futuros.
Em terapia, as atividades que envolvem a percepção auditiva agem, além do estímulo auditivo em si, no desenvolvimento de diversos aspectos cognitivos, tais como criatividade, memória, linguagem, e tantos mais que o terapeuta possa explorar, dependendo do objetivo previsto.
Muitas atividades podem ser utilizadas não somente com crianças, mas também com idosos, especialmente  no estímulo da memória. 
Disponibilizo algumas sugestões de atividades perceptivas, as quais podem ser adaptadas e modificadas conforme o público e objetivo.


Trabalhando com os sons


No player abaixo, você encontrará cinco exemplos de sons que poderão ser utilizados em diversas atividades: 






 Você pode gravar todos os sons (94 no total) em Cd e usar em suas sessões ou salas de aula. Para facilitar, escolha o formato desejado para baixar:  






Algumas sugestões de atividades:




  •  Estímulo auditivo e visual: bingo de sons, utilizando cartelas com figuras (baixe aqui algumas cartelas);
  •  Estímulo da linguagem e escrita: falar, escrever ou ainda desenhar o som ouvido;
  •  Estímulo da criatividade: Contar uma história ou elaborar uma frase baseada no som (ou sons - pode mostrar por exemplo 5 sons e pedir que se desenvolva uma história);
  • Estímulo da memória: Mostrar alguns sons  e pedir  posteriormente que identifique na ordem os sons ouvidos.


O musicoterapeuta ou professor poderá elaborar muitas outras atividades a partir destes exemplos.


Bom trabalho!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Musicoterapia e Idosos - Doença de Alzheimer




O emprego da música no tratamento de idosos portadores de Doença de Alzheimer tem se mostrado ser uma forma terapêutica eficaz.
Sabe-se que as habilidades musicais são geralmente preservadas em portadores de DA, mesmo quando os níveis de comprometimento da memória e linguagem estão se tornando mais acentuados.
Segundo pesquisa realizada no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, que oferece o atendimento de Musicoterapia desde 1968, a música é a última atividade cognitiva a ser perdida num quadro demencial. A importância dessa terapia reside, principalmente, na capacidade da música de fazer com que o idoso entre em contato consigo mesmo, resgatando e revivendo experiências do passado, expressando sentimentos, refletindo e se concentrando numa atividade (CAYRES, 2006).
Para Oliver Sacks, a musicoterapia se mostra eficiente com indivíduos acometidos por demência, mesmo nos casos mais avançados: “A resposta à música, em especial é preservada, mesmo quando a demência está muito avançada” (SACKS, 2007, p. 320).
O autor ainda cita objetivos importantes alcançados pelo tratamento musicoterápico:
O objetivo da musicoterapia para as pessoas com demência é bem mais amplo: atingir as emoções, as faculdades cognitivas, os pensamentos e memórias, o self sobrevivente desse indivíduo, para estimulá-los e fazê-los aflorar. A intenção é enriquecer e ampliar a existência, dar liberdade, estabilidade, organização e foco (SACKS, 2007, p. 320).


Atendimento musicoterapêutico em uma instituição asilar

A musicoterapia, portanto, utiliza-se da música enquanto linguagem e meio de expressão de natureza não verbal, favorece a exteriorização das potencialidades, proporciona a expressão de emoções e promove o desenvolvimento da criatividade, ampliando perspectivas de vida através do fortalecimento da auto-estima e das conexões cerebrais.
Ao utilizar-se da música e de sua qualidade polissêmica, ou seja, das mais variadas significações que ela pode representar para o sujeito idoso, a musicoterapia atua de forma global, seja no estímulo das potencialidades funcionais, mas principalmente, nos processos afetivos e mentais.

A bagagem musical do idoso oferece recursos para que o terapeuta possa acionar canais de comunicação e assim, promover a valorização da identidade pessoal do indivíduo, facilitando a participação efetiva no processo terapêutico e, consequentemente, conduzindo o idoso a uma melhor qualidade de vida.

“Acredita-se que a função da Musicoterapia é criar, manter e fomentar a comunicação, resgatando a espontaneidade perdida pelo homem ao longo de sua existência, estimulando a criatividade e liberando o indivíduo de condutas estereotipadas, de sua rigidez e cristalizações, comportamentos adquiridos durante o processo e envelhecimento” (GODINHO IN CASTRO E  PINTO ET AL, 2006).

Referências
CASTRO PINTO, S. P. L. et al. O Desafio Multidisciplinar: Um Modelo de instituição de Longa Permanência para Idosos. São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2006.  
CAYRES, K. Quem Canta, Seus Males Espanta. Artigo disponível em: http://www.amtrj.com.br/arquivos/jornalUFRJ.pdf.
SACKS, Oliver. Alucinações Musicais: Relatos sobre a Música e o Cérebro. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um olhar musicoterapêutico sobre o texto O som e o símbolo de Victor Zuckerkandl

                                                                                                                  Por Flávia B. Nogueira

Zuckerkandl, em seu livro “O som e o símbolo”, apresenta a estrutura musical sob uma análise que transcende os escritos da literatura sobre teoria musical. O autor mostra o potencial de elementos como “A nota”, “A melodia”, “A dinâmica”, e tantos mais.
No primeiro capítulo, Zuckerkandl aborda os quatro campos do conhecimento que estudam e apresentam concepções prontas a respeito de tais elementos: A teoria musical, a acústica, a psicologia da música, e a estética. Após analisar cada campo, o autor não chega a uma conclusão, sobre afinal, qual é o lugar da música:

“[...] se a música não tem seu próprio lugar no mundo exterior, o qual o físico investiga, nem ainda no mundo interior, o qual é a matéria tema do psicólogo, onde ela tem seu lugar? Este é o verdadeiro problema” (ZUCKERKANDL).

No decorrer do texto, vimos que fechar conceitos acerca do que é música, não é uma tarefa fácil, tanto quanto é inútil. A música e seus elementos constitutivos estão tão carregados de significados, que qualquer definição pré concebida a torna limitada e estática, em detrimento ao movimento.
Assim, uma nota musical, dentro de uma melodia, ganha sentido de palavras, de sentenças, ou seja, elas passam a expressar uma significação. Entretanto, dependendo do lugar ocupado por essa nota, o sentido expresso pode ser completamente modificado.
A comunicação expressa por uma melodia baseia-se em padrões especialmente culturais. Esses padrões, segundo Jourdan, é a razão da música se tornar compreensível e dotada de sentido:

Quando um cérebro é capaz de modelar um padrão, surge a sensação significativa. Quando um cérebro não está à altura da tarefa, nada ocorre e a experiência que um animal tem do mundo é, com isso bem menor que a nossa. JOURDAIN, p.23 

Entre os padrões conhecidos de maneira praticamente universal, está a tonalidade. Nossos ouvidos se identificam sobremaneira ao padrão tonal, que mesmo uma pessoa que não estude música, percebe, por exemplo, o sentido de continuidade e finalização de uma melodia.
Pensando no potencial terapêutico que as melodias expressam, podemos pensar nos conceitos de tensão e relaxamento, perguntas e respostas.

A nota dá a impressão de apontar para além dela mesma para libertar-se da tensão e restaurar o equilíbrio; ela dá a impressão de olhar em uma direção definida pelo evento que provocará esta mudança; ela parece ainda pedir pelo evento. É claro que uma nota assim não pode ser usada como a nota conclusiva de uma melodia (ZUCKERKANDL).

A melodia é reveladora. Ela pode articular sentimentos sem ficar vinculada a ele.  A música deve, além de estimular os sentimentos, deve expressá-los, e neste sentido, a força da dinâmica melódica impulsiona uma resolução, ou não.
Durante uma experiência de improvisação no setting musicoterapêutico, a força das notas, dentro de um contexto melódico, podem dizer muito.
Para Willems (1969) a melodia sempre será o elemento mais característico da música e em determinadas culturas é o elemento central. Para o autor, melodia é a sucessão temporal de sons e silêncios e, psicologicamente ela é absolutamente conectada a nossa consciência afetiva. Seu princípio fundamental é a mudança de entonação ascendente e descendente dos sons sucessivos e, esta organização pode produzir um resultado musical compreensível e incompreensível, de prazer e desprazer, de tensão e relaxamento, atribuído a consonância e a dissonância (WILLEMS, 1969, p 21).
A noção de consonância e dissonância dá a impressão de relações próximas e distantes. A consonância  é a relação mais próxima e simples com o som fundamental, e a dissonância  a relação mais afastada e complexa. "O que é hoje é distante, amanhã pode ser próximo; é apenas uma questão de capacidade de aproximar-se” (SCHOENBERG, 2001 pág.59).
No XIII Simpósio de Musicoterapia, Barcellos apresentou a Técnica Provocativa Musical - que consiste na execução de trecho sonoro, rítmico, melódico ou harmônico, uma música ou letra de canção que se apresenta incompleta (BARCELLOS, 2009). Nessa técnica, Barcellos apresenta um trecho musical incompleto que convoca o paciente a completá-la, desafiando-o a uma resolução.
O trecho melódico é compreendido como uma narrativa, uma idéia, uma exposição de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos reais ou imaginários que o indivíduo é convidado a finalizar. O desafio da conclusão, impulsionado pela força dinâmica da nota, possibilita a organização. Tal organização não se limita ao fazer musical, ele é extensivo à vida cotidiana do sujeito.
Assim como na vida temos momentos de tensão e repouso, perguntas e respostas, conflitos e resoluções, vêem-se nas estruturas musicais certas semelhanças a padrões dinâmicos da experiência humana.
Além disso, a melodia e as notas que a constituem dão a idéia de movimento.

“Seja lá o que a música possa ser, uma coisa ela deve ser: movimento... Falar de movimento faz sentido somente quando algo que está presente se move. O que é aquilo que se move numa melodia? Será respondido: a nota” (ZUCKERKANDL).

 A vida é movimento, e mesmo que ajam repetições, há sempre a possibilidade do novo arranjo, da mudança, da variação, da surpresa. Portanto, o fazer musical em musicoterapia possibilita ao sujeito vivenciar, sem o uso da palavra, sentimentos de satisfação e equilíbrio, alcançando a partir da auto realização, mecanismos capazes de resolver suas dúvidas, tensões e angústias.


 BIBLIOGRAFIA

BARCELLOS, Lia Rejane. Sobre a técnica provocativa musical em musicoterapia. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE MUSICOTERAPIA, 13, 2009, Curitiba, Anais. Curitiba: Griffin, 2009. p. 103 a 109.
JOURDAIN, Robert. Música, Cérebro e Êxtase. Rio de Janeiro: Objetiva. 1998.
SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo: Unesp, 2001
WILLEMS, Edgar. Las Bases Psicológicas De La Educación Musical. Buenos Aires: Editorial Universitária de Buenos Aires, 1969.
ZUCKERKANDL Victor.  Sound and symbol: music and the external world.  Princeton, NJ, PUP, 1956.




segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PROFISSÃO: MUSICOTERAPEUTA

  
Por Flávia B. Nogueira

No Brasil, os primeiros musicoterapeutas surgiram na década de setenta, como uma especialização, na Faculdade de Educação Musical no Paraná, conhecida hoje como Faculdade de Artes do Paraná. Em 1972, iniciou-se o primeiro curso de graduação em Musicoterapia, no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. Apesar de estar presente no Brasil desde os anos 70,a profissão exercida pelo musicoterapeuta ainda gera muitas dúvidas.
Neste artigo, vamos responder algumas dúvidas frequentes quanto a Musicoterapia.


O que é musicoterapia? Quais seus objetivos?

Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia (1998), “Musicoterapia é a utilização da música e seus elementos como som, ritmo, melodia e harmonia, por um musicoterapeuta qualificado, em um processo estruturado a fim de facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, aprendizagem, mobilização, expressão e a organização, seja física, emocional, mental, social e cognitiva”.
Portanto, a musicoterapia é uma forma de tratamento que se utiliza da música e seus elementos com objetivos terapêuticos, atuando tanto na promoção da saúde, como na reabilitação.


 Um musicoterapeuta deve ser também músico?

Sim. O profissional musicoterapeuta, além das áreas da saúde e psicologia, deve dominar a linguagem musical.

  Qual o público alvo da musicoterapia?

Todos os indivíduos que busquem de alguma maneira, melhorar a saúde, seja mental, psicológica e/ou física.

 Como se dá o tratamento através da musicoterapia?

A musicoterapia utiliza-se de diversas técnicas específicas. Ao iniciar um tratamento, o indivíduo é avaliado pelo musicoterapeuta, o qual traça um objetivo e elabora a melhor intervenção a fim de alcançar o objetivo traçado. Ao contrário que muitos pensam, não existe músicas prontas como uma “farmacopéia musical”. Para cada caso, o profissional irá escolher a intervenção mais apropriada, sendo que escutar música é mais uma das técnicas, entre muitas outras.

A musicoterapia cura doenças?

Primeiramente, o termo “doença” precisa ser definido. Se entendo por doença aquilo que me faz mal, que de alguma maneira me prejudica, sim, a musicoterapia pode curar, afinal, esse é o objetivo de uma terapia, resolver as problemáticas trazidas pelo cliente/paciente.
Certamente, muitas “doenças” necessitam ser tratadas com medicamentos, o que torna, em muitos casos, imprescindível o acompanhamento de um médico. Por outro lado, estudos comprovam que a música pode gerar vários efeitos biológicos no organismo, como por exemplo, a diminuição da dor e controle da pressão arterial, acarretando na redução o uso de medicamentos.

 Como é reconhecida a profissão no mundo e no Brasil em particular?

A musicoterapia ainda é uma profissão nova. Ela surgiu na década de 40, nos Estados Unidos, e desde então vem se difundindo no mundo.
Em vários países, assim como nossa vizinha Argentina, a musicoterapia já faz parte do sistema público de saúde. No Brasil, a profissão foi inserida no Código Brasileiro de Ocupações na classe de Terapeutas ocupacionais e afins sob o Código 2239-15 e pouco a pouco vem ganhando seu espaço. Recentemente alguns estados abriram concursos públicos para musicoterapeutas prestarem atendimento na rede pública de saúde.

Há a prescrição de medicamentos pelo musicoterapeuta? 

Não. O musicoterapeuta, assim como outros profissionais da área da saúde devem possuir um conhecimento sobre farmacologia, porém, o único profissional que pode receitar medicamentos é o médico, nenhum outro profissional pode gerar receita medicamentosa.

Qual o tempo médio de tratamento para que ele seja eficaz?

Não existe um tempo pré estabelecido. A duração de um processo terapêutico varia de acordo com o caso do paciente. A alta ocorre quando os objetivos terapêuticos forem alcançados.

Poderia citar alguns exemplos de objetivos terapêuticos?

O objetivo é diminuir ou eliminar sintomas indesejáveis, tais como: estresse, depressão, desequilíbrio emocional, dificuldades cognitivas como aprendizagem, memória (comum em pacientes idosos), dificuldades de linguagem (como afasias), dificuldades motoras, e tantas outras.


Considerações finais

Presente em muitas instituições, a musicoterapia está conquistando espaço e respeito, se mostrando uma forma de tratamento séria em meio aos profissionais da saúde e também do público.
Porém, por ser uma profissão relativamente desconhecida, muitos ainda pensam que “colocar música” é sinônimo de musicoterapia, como por exemplo, dentistas que tocam música na sala de tratamento e anunciam que estão realizando musicoterapia. Somente o profissional graduado (a graduação dura 4 anos) pode exercer a profissão. Nem mesmo um músico experiente está habilitado para exercer a musicoterapia. Como professora de música há muitos anos, sei que a música pode ser terapêutica e trazer benefícios, porém, realizar um tratamento, somente um profissional qualificado.
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