quinta-feira, 10 de março de 2011

Dom Musical

Mozart, considerado o maior gênio da música


Em nossa cultura remota, é comum comparar o cérebro humano com uma máquina. Assim, fica a cargo da complexa máquina neural o processamento lógico e racional. 

Por outro lado, questões subjetivas como emoção e criatividade ficam armazenadas (no imaginário das pessoas) em um lugar desconhecido, reservado a pessoas especiais possuidoras de um “dom” exclusivo. 

Predomina no senso comum a visão de que o artista é um ser que foi escolhido por uma entidade divina para receber um dom especial, que o distingue do restante dos seres humanos. Idéias como destino, talento inato, predestinação, ligadas a teorias religiosas e à ideologia veiculada pelos meios de comunicação em massa, contribuem para formar nas pessoas a concepção de que um músico, um pintor, um ator já nasceram para realizar aquela atividade e são pessoas “únicas” e “especiais”. 

Assim, acaba-se valorizando o artista e colocando-o em uma posição superior aos demais indivíduos, por realizar atividades tecnicamente difíceis, que proporcionam raro prazer estético ao espectador. Ao considerar execução artística possível somente por alguns “escolhidos”, termina-se, sob outro ângulo, por deslocar o músico, o pintor, o ator do mercado de trabalho “comum”, composto pelas profissões tradicionais, o que gera certa desvalorização do fazer artístico, identificando-o como uma atividade mais recreativa, pouco séria, que exige pouco esforço intelectual de seu praticante, que já teria nascido com habilidades inatas para aquela execução. Tal idéia neutraliza a realidade da formação artística, com as incontáveis horas de estudo e pesquisa às quais este profissional se sujeita. 

Ser músico, nesta visão, muitas vezes não acarreta em reconhecimento profissional. Ainda hoje vejo muitos pais que não aceitam com bom grado quando seus filhos escolhem serem Músicos, em detrimento a outras profissões “tradicionais”. 


A Ideologia do Dom 

A concepção de que pessoas nascem com "talentos" especiais é antiga. O filósofo Platão prega o inatismo, ou seja, as pessoas possuem "dons" inatos:  "há, diremos nós, mulheres que são naturalmente aptas para a medicina e para a música e outras que não o são" (PLATÃO, A REPÚBLICA).
A vinculação da idéia de que a habilidade musical possui um fator genético, prevendo que certos indivíduos nascem com habilidades especiais,  não possui comprovação científica, embora pesquisas sobre música e cérebro,  procuram identificar um gene musical, porém, ainda são inconclusivas.

Ao longo da história, vimos nascerem muitos autores e intérpretes geniais, tais como Mozart, que começou a compor aos 5 anos de idade, e intérpretes fora do comum, como a pequena japonesa Aimi Kobayashi (ver vídeo abaixo). Porém, afirmar a existência do dom, ou se tem ou não se tem, pode limitar e impedir que muitas pessoas possam usufruir de uma carreira artística, ou mesmo de simplesmente aprender um instrumento. Há pessoas que nem sequer tentam aprender música pois acreditam não possuir "Dom".

Em 2008 foi realizada uma pesquisa que analisou a trajetória de  oito músicos brasileiros de destaque: Almeida Prado, Carlos Gomes, Chico Buarque, João Bosco, Magdalena Tagliaferro, Milton Nascimento, Tom Jobim e Villa-Lobos, com o objetivo de comprovar ou refutar a concepção do dom musical inato.

A pesquisa concluiu que o ambiente cultural familiar é decisivo na  escolha e desempenho das carreiras artísticas bem sucedidas. Em algum momento, a música foi inserida no ambiente desses futuros músicos, chamando suas atenções e impulsionando suas carreiras. 

"As reflexões e análises efetuadas no trabalho contribuíram para um entendimento objetivo das condições culturais que dão impulso às carreiras artísticas de músicos populares e eruditos, descartando as hipóteses postuladas pela ideologia do dom e por possíveis teorias que prevejam genes de “predisposição” à música.
Assim, pôde ser notado o fato de que o ambiente cultural influi decisivamente na formação do indivíduo, que, ao ouvir música via discos, rádio ou por meio da interpretação das pessoas que compõem o círculo familiar (pais, irmãos, tios, babás, etc.), é inserido no universo musical, desenvolvendo sua cognição voltada à compreensão do fenômeno artístico, que pode ser, futuramente, tomado como linha diretriz de sua vida." (Parágrafos finais da pesquisa)

Portanto, a questão do dom musical ainda permanece aberta. De um lado a falta de fundamentação científica que comprove sua existência e pesquisas conclusivas que refutam o inatismo. Por outro lado, eventualmente nos deparamos com indivíduos dotados de habilidades tão fora do comum que só podemos chamá-los de gênios.

Veja a pianista japonesa Aimi Kobayashi aos 4 anos de idade:



E você caro leitor, o que pensa sobre o  Dom musical? Deixe sua opinião!



Referências

AMATO, Rita de Cássia Fucci. Capital Cultural versus Dom Inato: questionando sociologicamente a trajetória musical de compositores e intérpretes brasileiros. Opus, Goiânia, v. 14, n. 1, p. 79-97, jun. 2008.








3 comentários:

  1. Querida Flávia

    Adorei seu blog, sou professora da FAP do Curso de Musicoterapia. Agora vou sempre visualizar suas postagens. Ah, tbém adora blogar, o meu blog é noeminascimentoansay.blogspot.com. bjs Noemi

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  2. Noemi

    Obrigada!
    Continue acompanhando!
    Abraços
    Flávia
    A propósito, estou conhecendo seu blog...parabéns!

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  3. Olá, Flavia! Gostei muito do teu blog!
    Sou professor de música em Porto Alegre RS.
    Se puder, visite meu site.
    www.fernandoteixeira.com.br

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