segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Música pode atuar por si mesma?



Para o musicoterapeuta argentino Rubén Gallardo, "Fazer musicoterapia é utilizar o som, a música, a voz, os instrumentos musicais e todas as formas rítmicas e sonoras manifestadas e/ou percebidas através do corpo, dos objetos e dos meios analógicos e digitais de produção, reprodução, edição e comunicação, como ferramentas do musicoterapeuta e com objetivos terapêuticos". Para Gallardo, a música é uma ferramenta do musicoterapeuta.

A música, por sua característica de unir simultaneamente elementos racionais e emocionais, possui uma potência terapêutica importante. Porém, afirmar que por si  mesma a música é um agente "curativo", requer uma reflexão mais profunda.

Segundo o pesquisador e psicanalista clínico Marcelo Peçanha, há uma distinção entre os termos  terapia e terapêutico:

Terapia - Envolve um processo entre paciente e terapeuta, com início e fim (alta). Uma terapia requer objetivos claros e planejados.

Terapêutico - Qualquer atividade que resulte em bem estar para a  pessoa envolvida. Assim, ouvir música pode ser terapêutico, fazer artesanato, pintar,tirar umas férias, bordar. Não envolve necessariamente um processo com objetivos estabelecidos.

Ainda segundo Peçanha, o terapêutico tende a afastar o indivíduo da realidade, enquanto a terapia, ao contrário, procura aprofundar-se no interior do sujeito, e assim, realizar a intervenção necessária.

Portanto, ouvir uma música tranquila e agradável pode ser terapêutico para muitas pessoas, afinal a música tem elementos que permitem o distanciamento da realidade. Ela nos faz viajar por lugares maravilhosos. Mas, apesar desses atributos, por si só, a música não representa mudanças, ou seja, seus efeitos tendem a ser apenas passageiros.

Para Rubén Gallardo, atribuir à música um caráter mágico e superestimado é minimizar e até neutralizar a função do musicoterapeuta.

O musicoterapeuta é um terapeuta que utiliza suas ferramentas, entre elas a música, com objetivos terapêuticos efetivos, através da observação, interpretação e intervenção de acordo com a problemática do paciente. A música, é então para o musicoterapeuta, um intermédio que viabiliza a relação terapêutica e não uma terapia em si mesma.

Rubén ainda completa que essa versão acerca do poder da música é um dos fatores que mais contribui para confundir o lugar do musicoterapeuta e as bases teóricas da profissão.

Um exemplo dessa afimação do Gallardo, é a confusão que as instituições fazem, colocando o educador musical como substituto do trabalho do musicoterapeuta.
Recentemente, uma colega  ao se candidatar a uma vaga de Musicoterapeuta em uma instituição de saúde mental, recebeu a seguinte resposta: "Desculpe, mas já temos professora de música" (?!)

E você, caro leitor, qual a sua opinião sobre isso?



Bibliografia

GALLARDO, Rubén, BUTERA, Carlos. Introducción a la musicoterapia clínica: conceptualización y metodologia. Tomo I. Buenos Aires: Ediciones Estudio de Musicoterapia Clínica, 2002.

DE PAULA, Marcelo Peçanha. Mente musical: As quatro estações, lidando com as emoções. São Paulo: Anais do X Fórum Paulista de Musicoterapia,  2010.

4 comentários:

  1. Parabéns pelo blog!! As postagens estão com um contéudo excelente!! Beijos

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  2. Obrigada "Carol"! Seja sempre bem vinda!
    Bjs, Flávia

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  3. Oi Flávia,
    Parabéns mais uma vez! Seu trabalho é muito bom mesmo! Deve dar muiiiiiiiiiiiiiito trabalho, não , colega?
    Bem, o que eu acho: na verdade, ainda procuro (rs). Vamos lá... Como vc já comentou em outra postagem sua por aqui, vc mesmo afirma que para ser musicoterapeuta, importa muito saber música. Daí, posso dizer que o professor está contido no musicoterapeuta mas a recíproca não é verdadeira. Porém, isso é cristalino para nós, claro, que somos musicoterapeutas. Para os leigos, parece não ser tão fácil entender.

    Então... voltamos à nossa problemática. Precisamos colocar a nossa profissão em evidência. É o que vc faz com maestria neste site. A cada musicoterapeuta atuante cabe fazer a nossa propaganda.

    Buscamos isso em nosso Grupo de Estudos. Flávia, mais uma vez convido vc a participar do nosso Grupo.

    Gde bjo da Helena

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  4. Olá Helena!

    É sempre ter você por aqui! Realmente, a confusão é ainda bastante comum, mas acredito ser nosso papel esclarecer e diferenciar 'aula de música' de 'musicoterapia'.
    Quero muito participar do grupo! Atualmente minha vida está beeem corrida (graças a Deus!) e está realmente dificil até manter o blog atualizado, mas uma hora vai dar certo de participar com vcs, só espero que não parem!

    Abraços! Flávia

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